UM DIA "NÃO QUALQUER" DO MÊS DE ABRIL...

De repente ela se percebeu um pouco perdida, sentada no sofá de casa pensando numa certa pessoa...

Depois, percebeu que novamente seus pensamentos haviam fugido para perto de uma tal pessoa...

Ela estava no trabalho, dentro do ônibus, nos cursos, na faculdade, na casa das amigas, na rua, antes de ir dormir, ao acordar, ao suspirar, com os pensamentos distantes...

Enquanto todos conversavam e buscavam de alguma forma se entreter, ela estava com a mente lá, naquela pessoa, que por acaso, (se é que o acaso existe) cruzou o caminho dela, de uma maneira meio bizarra, mas real. Aconteceu...

E de pensar que em apenas alguns dias ela estaria impactada dessa maneira, me impressiona!

E com toda a certeza, garanto que no primeiro dia em que começou a rolar esta trama, ela mal imaginava o que isso poderia causar a longo prazo!

Tudo começou em um dia cinzento... Frio!

Aquele dia que para ela, era um dia contrário. O tal do dia "mau".

Levantou-se da cama e pensou estar atrasada para tomar o ônibus ao trabalho...

Tomou o banho rapidamente, pegou as primeiras peças de roupas que encontrou em seu guarda-roupas, sem combinações, cores neutras.

Tomou seu suco e saiu com pressa, mas, não sem antes dar um beijo em seu pai que dormia!

A mãe dela a levou até a porta e como de costume: desejou a ela um ótimo dia com muitas bençãos e proteção.

Ela que estava atordoada, com a cabeça doendo e pensando em mil coisas, apenas sorriu... 

Mas somente uma coisa ressaltava em sua mente: A situação que estava seu coração, e triste por ter acreditado fielmente que estava apaixonada por uma PESSOA a essa altura da vida, que não a entendia. 

Ela nutria um sentimento "inocente" e mantinha esperanças de que algum dia seu sentimento fosse retribuído da maneira mais doce que possa haver (mas no fundo do coração dela, sabia que esse dia poderia não chegar). Ela temia, mas mantinha a fé.

O tempo está passando, a idade está avançando e ela quase não tem experiências de vida como suas amigas... Tudo super cinza.

Tomou seu ônibus para mais um dia de trabalho, chegou no horário certo. Tudo aparentemente bem, até que a cabeça começasse a incomodar, doer, doer bastante novamente, então tomou remédio que alguns minutos depois resolveu.

Nos últimos dias a cabeça dela havia doído bastante... Ela não sabia ao certo o motivo, mas, em outros dias a dor não ousou aparecer! Foram alguns poucos dias após esse dia, mas isso conto depois.

Ela cumpriu seu horário de trabalho, fez tudo conforme orientado e delegado, como de costume.

Sinceramente o dia daquela garota havia sido um tédio! Aquela mesmice chata... Téééééédiooooo!

As horas foram passando, em alguns momentos lentamente, depois rapidamente, até que enfim: 17 horas! 

Pegou a bolsa, desligou sua máquina e foi embora.

Viu os edifícios da Avenida Paulista (a avenida que ela tanto ama), os carros com seus faróis, os sinais de pedestres, o céu... Céu que ela sempre olhava esperançosa de obter algum dia uma resposta, sabe-se lá qual de tantas dúvidas que possui.

Ventou muito naquele momento, então ela colocou o capuz da blusa na cabeça, quase se escondendo daquelas pessoas que passavam ao lado dela pela calçada... E ela se sentiu bem assim.

Sentiu uma vontade louca de comer chocolate, então foi a banca de jornal comprar. algum... Aquele alpino adoçou o fim de tarde dela (e sua alma).

E foi neste exato momento, enquanto levava o fim do alpino a boca, que aconteceu algo que não sei se foi destino, se foi coincidência ou acaso (se é que realmente existe)... Mas naquele exato momento dois caminhos se cruzariam, duas vidas, duas almas. Foi o momento em que ela viu pela primeira vez uma pessoa que poderia mudar a rotina dela completamente, e ela não era capaz de imaginar, ainda!
Ela se aproximou do ponto de ônibus, onde haviam várias pessoas, com vários estilos, personalidades, pensamentos, histórias e vidas diferentes.
Ela sempre parava e pensava como seria a história de vida de cada pessoa que passava e esbarrava grotescamente ou delicadamente por ela nas tardes quando voltava do trabalho.
O que vinha em sua mente era surpreendente! Haviam pessoas bem vestidas, pessoas mal vestidas, pessoas sorridentes, pessoas aparentemente tristes, pessoas cansadas, outras exageradamente simpáticas ou com o mau humor estampado nos rostos! Todos seres humanos, como ela.
E como é triste saber que estes seres humanos se desfazem de outros seres humanos, por talvez não estarem classificados no que na mente de alguns é "estabilidade mental, social", por puro status, aparência ou apenas por terem olhado e não gostado. Olhos que julgadores, mentes más, que agem no modo automático, infelizmente. 
Ela observou cada rosto, como sempre faz. Até que notou um rosto diferente entre aqueles!
Esse rosto a incomodou profundamente, sem que ela entendesse muito bem o motivo. Ela não poderia imaginar que aquele rosto, naquela tarde entraria para sua vida e ganharia tamanha importância e significado dali em diante.
O ônibus dela havia chegado, dessa forma, tomou o ônibus e por "coincidência", "destino" ou "acaso" (se é que ele existe mesmo), a tal pessoa também o tomou.
Alguns minutos depois aquele rosto da tal pessoa apresentaria o mais belo sorriso que ela já olhou antes, que traria luz àquele dia do mês de abril, um mês tão parado e chato, como tinha sido até aquele instante.
Bem, foi assim que aconteceu.
Começou com um olhar direcionado a tal pessoa, dentro daquele espaço, e aconteceu uma troca de olhares tímidos... 

A pessoa então no momento oportuno cutucou a garota, soltou um sorriso, fez uma pergunta que qualquer pessoa dentro de um ônibus lotado imaginaria escutar, quando se está presa em uma catraca ocupando o caminho do próximo ansioso por sair dali: Vai descer no próximo? (Para ter passagem e girar a catraca para descer).
A resposta da garota diante daquela situação cotidiana dos trabalhadores e estudantes em Sampa, foi a seguinte, sem hesitar: Pretendo!
Olhou para o lado rapidamente e percebeu aquele sorriso lindo! Por um lapso temporal ela deu uma desligada da Terra e voltou.  Automaticamente, sem intenção alguma, respondeu novamente: Aliás, não pretendo, vou! Porque era realmente o próximo ponto onde deveria descer.
Passou por aquela catraca, passou por aquelas pessoas que estavam dificultando a passagem, algumas mau humoradas, outras não, pessoas de todos os tipos... E enfimmm, desceu.
O cenário agora era chão firme. 

Um rapaz inconveniente que estava na calçada próximo ao ponto de ônibus disse algo a garota pensativa, que logo sentiu-se perturbada e reagiu sem perceber (pensou alto algum xingamento que não vem ao caso), por instinto. -Mulher em São Paulo não tem um minuto de paz, meu Deus! 
A tal da pessoa do sorriso lindo riu ao ouvir, essa reação... 

Ela talvez não imaginou que seria percebida (estava praticamente ao lado da garota), mas no calor do momento para descer do ônibus e com esse assédio de cada dia, se estressou e falou mais do que devia.
Se fosse eu no lugar da pessoa do sorriso bonito, também daria risada, pois descer de um ônibus lotado ao final da tarde, naquele perrengue nada chic e ainda escutar de alguém não identificado, sem noção alguma, algo que perturbasse um pouco, seria no mínimo engraçado! Para não dizer o contrário!
Depois disso, caminharam em direção a mesma calçada, o mesmo semáforo, e essa pessoa estava acompanhada de seu irmão, uma outra pessoa tão doce quanto ela. Eles se apresentaram, riram, trocaram e-mails e em seguida mais risadas... Foram minutos inesquecíveis, típicos de histórias de livros ou filmes, onde se encontra AQUELA pessoa.

Curioso porque logo nos primeiros minutos descobriram algumas coisas em comum... Aquilo foi no mínimo estranho e foi motivo de muitas risadas!
O primeiro dia em que alguém encontra um outro alguém que causa um impacto de alguma forma na vida, nunca será esquecido, é um fato verdadeiramente e inquestionavelmente inesquecível.
Dizem que algumas pessoas são impactantes, pela maneira de agir, pela maneira de falar, ou apenas pela aparência... E também tem aquele tipo de pessoa, que nos chama a atenção não pela maneira de falar, pela beleza, status, inteligência ou aparência, mas sim pela essência que se nota logo nos primeiros minutos (claro, para quem observa a essência das pessoas). A energia. Energia fala mais que boca.
Essa essência não foi difícil de notar, pois aquela com toda a certeza era uma PESSOA DA ALMA, aquela que enxergamos a alma através dos olhos. Aura boa...
(Bendito ônibus lotado...)
Talvez aquela garota não fosse capaz de imaginar naquele momento, que aquela pessoa marcaria sua vida de uma maneira tão intensa.

De maneira tão autentica a ponto de ela entregar com alegria e confiança absoluta, os primeiros momentos de uma passagem, em que seriam permitidas novas sensações, novos olhares, definitivamente seria uma nova fase da vida dela. Transição.
O interessante é que quando cito "encontro de destinos, de almas" sem dúvidas, faz muito sentido. Porque diversas pessoas cruzam nosso caminho, algumas permanecem por muito tempo, outras por pouco tempo. Mas, as pessoas da ALMA por menor que seja o tempo de convivência, a intensidade é incrível, explicita, incontrolável e algumas vezes inexplicável. 

Temos uma certeza incontestável de que "re"conhecemos uma pessoa significativamente especial. 

Sentimos com a alma.
Aquela pessoa parece que deixa um pouco da alma dela, se tornando parte da sua... Como se as almas fundissem e jamais voltassem a ser como eram antes.
Encontro de almas é um acontecimento tão lindo que não pode jamais ser sujado por palavras e sentimentos ruins.

Em alguns casos pode surgir atração além do carinho, da amizade, do companheirismo, da sensação de anos vividos lado a lado. 

Pode ser até que surja paixão e depois o amor... Ou que não surja a paixão, somente o amor inexplicável. 

Mas sem dúvidas o amor surgirá, seja o amor acompanhado de paixão ou não.
Pode-se confundir no começo quando acontece a junção das almas com o pensar de que aquela alma será aquela que te completara, por inteiro e "pra sempre", mesmo que o pra sempre seja apenas alguns instantes. 

"O que tem de ser tem muita força" - Guimarães Rosa.
Se essa alma que fundiu com a sua não for a alma que será sua companheira nas noites frias, nos momentos quentes, nas lágrimas ou nos risos, certamente será uma alma que chegou para ficar e complementar sua vida de alguma forma, como uma alma amiga, presente.
E sem dúvidas ali haverá também um amor puro e verdadeiro.
O importante é ser sincero e ser da alma.

Não sei dizer o que vai acontecer... Não sei dizer se é caso de amor genuíno ou de paixão ardente. 

Apenas afirmo que foi um encontro lindo. Foi lindo de ver.
Tenho certeza que jamais a vida daquela menina será a mesma. 

O grande mistério tem uma maneira especial de movimentar as coisas nessa vida, ou de permitir que certos acontecimentos e encontros aconteçam... 

Sei que, a alma daquela garota que vivia alguns dias cinzentos e de tédio, vibro! Se alegrou ao encontrar aquela outra alma maravilhosa.

E essa presença, de certa forma a transforma em uma pessoa melhor dia-a-dia.

Esse é o melhor presente que se pode ter na vida: tocar e se deixar ser tocada.

(Bendito ônibus lotado, de uma terça-feira (26) do mês de abril as 18h e alguns minutos...)

Jéssica Pessoa
21/05/2011